Transgênero, travesti, transexual: professor doutor da URI explica as diferentes identidades de gênero

Pelo 13º ano, o Brasil continua sendo o país onde mais se mata pessoas trans, seguido pelo México e os Estados Unidos. Foram reportados 375 assassinatos em todo o mundo no ano passado. Os dados são da ONG Transgender Europe (TGEU, na sigla em inglês), divulgados pelo portal de notícias g1, nesta sexta-feira (28). É por isso que marcar datas como o Dia da Visibilidade Trans, lembrada neste sábado (29), é tão necessário. Uma oportunidade de jogar luz em questões que ainda precisam ser superadas pela sociedade.

Com o título "Cidadanias precárias: sujeitos trans e educação", o professor doutor do curso de Psicologia da URI, câmpus de Santiago, Izaque Machado Ribeiro, analisou em sua tese de doutorado, a trajetória de vida de pessoas trans e o quanto são marcadas por processos de exclusão e negação das suas identidades. Ele nos ajuda a compreender esta diversidade de existências.

ENTENDA:

Transfobia:

“Transfobia é a aversão social direcionada às pessoas trans (travestis, transexuais e transgêneras) e a tudo o que remeta ao seu modo de vida (comportamento, vestimenta, preferência artística, etc.). A transfobia é estrutural pois está impregnada na sociedade brasileira, não se tratando de um fenômeno meramente individual ou localizado em algumas regiões específicas do país.”

Transgênero e cisgênero

"Quando a gente fala de pessoas trans, estamos falando de um aspecto chamado IDENTIDADE DE GÊNERO, que compreende também a pessoa cisgênera. Quando falo em identidade de gênero cisgênera, quer dizer que eu tive meu sexo designado ao nascer, antes até, na ultrassonografia, por conta dos meus órgãos sexuais, meu aparelho reprodutivo. Ao longo da minha vida, vou seguindo aquilo que foi designado. Se o médico disse que sou menino, identidade de gênero masculina. Vou construindo sem grandes problemas, sem grandes questionamentos. Para a pessoa transgênera, a questão é diferente. Ela vai passar pelo mesmo processo, mas ao longo da vida vai perceber que não é esta identidade com a qual se dá bem, se sente à vontade. Passa por um processo longo de compreensão, onde vai perceber que não concorda com a identidade cis. Em resumo, a identidade cis vai abranger as pessoas que se identificam com o gênero o qual foi designado ao nascer ou até mesmo antes e a trans, são aquelas que não se identificam com o gênero atribuído."

Travesti e Transexual

Há também as identidades de gênero travesti.  Dentro do conjunto das pessoas trans têm pessoas que se autodenominam e se compreendem como travestis. Um entendimento geral sobre o que é ser travesti, é que é sempre no gênero feminino. Se uma pessoa se autodenomina travesti, ela espera ser tratada no gênero feminino. O pronome é “A” travesti. Usar o pronome masculino é tido como algo pejorativo pela pessoa. Tais como “traveco”, “trava”, carregam preconceito e discriminação contra a pessoa. Antes se usava a palavra transexual, mas o sufixo “sexual” tem a ver com um direcionamento para o sexo anatômico e já não se tem mais este entendimento de que o sexo anatômico consolida a identidade, muito pelo contrário, há outras questões. Ela vai ter o interesse de fazer a cirurgia de designação sexual e já a travesti, geralmente ela não tem o interesse de fazer a cirurgia, que é ofertada pelo SUS em várias localidades do país.”

Identidade de gênero e orientação sexual

“Uma coisa importante que a gente tem que levar em conta é não confundir identidade de gênero com orientação sexual. Identidade de gênero é como eu identifico: como homem ou como mulher, como homem cis ou como trans, como mulher cis ou mulher trans e orientação sexual tem a ver com a orientação do desejo: homossexual, heterossexual, bissexual. As pessoas às vezes confundem. É como se naturalmente uma pessoa trans, obrigatoriamente fosse homossexual. Não é uma linha reta. Da mesma forma que esperam que uma pessoa cis seja heterossexual. Essa é a norma social, mas não quer dizer que seja a realidade.”

Na dúvida, pergunte

“Na dúvida, pergunte. É muito melhor perguntar do que se dirigir para a pessoa com um pronome inadequado ou que você supõe. Pergunte: ‘Como você prefere ser chamada ou chamado?’ ”, orienta o professor.